Engraçado como a gente fala, né? Fala com os amigos, talvez com a família, fala com estranhos e às vezes até com as paredes. Fala no silêncio, no vácuo, no escuro, fala baixo quando quer ser escutado e alto pra tentar acreditar no que está falando. A gente grita quando é grande o alvoroço. A gente fala até com os dedos quando está no trânsito e há um barbeiro maldito no caminho. A gente fala sozinha, a gente fala calada, a gente fala escrevendo. Fala lenta, rápida, ansiosa, brusca, rude, doce ou inadequadamente. Pelos buracos, pelos cotovelos, pelos olhares. Por gestos, caretas, ruídos, gemidos. Sobre o inferno e o céu, no inferno e no céu. A gente fala e não se cansa! Interrompe o falatório do outro e fala. Vê qualquer coisa, não resiste, e fala!
A gente fala tanto que nem percebe tantos mais falando com a gente. E o que era pra ser uma sintonia de falas, vira uma confusão deplorável! E quando a gente se cala e houve a dissonância de tantas falas diferentes simultâneas, a gente fala que os outros é que falam demais!!!
Mas aí a gente nunca mais se cala.
* * *
Metade dos problemas de cada um de nós se resolveria se aguçássemos o sentido de ouvir. Mais do que uma carência afetiva, vivemos a carência dos bons e velhos ouvidos. Infinitas serão nossas conversas superficiais, não porque sejamos superficiais ou não tenhamos intimidade uns com os outros, mas sim porque não encontramos ouvidos a postos para a paciente tarefa de nos ouvir.
Pois bem.
Prazer, você! Sou toda ouvidos!
"For millions of years mankind lived just like animals.
Then something happened which unleashed the power of our imagination:
We learned to talk..."
(Pink Floyd)

Pink Floyd - Keep Talking.
.:: Por Louise Gracielle, às 5:17 PM.